Não sou eu mesmo no trabalho, devo me preocupar?

É comum ouvir relatos de funcionários insatisfeitos por não serem eles mesmos no trabalho, devendo colocar uma máscara para melhor se adequar ao ambiente corporativo, que, muitas vezes, não proporciona um ambiente agradável para desenvolvimento pessoal e profissional.

Para entendermos o porquê disso, é preciso voltar ao tempo. Há pouco mais de 100 anos, a Revolução Industrial começou a reorganizar as formas de trabalho e, naquele momento, as pessoas ficaram felizes em trabalhar nas linhas de montagem e o trabalho de forma repetitiva e operacional. Não houve queixas sobre o tempo de entrada e saída e os gestores estavam concentrados em transformar funcionários em máquinas produtivas que combinavam com o maquinário mais amplo de suas fábricas. Embora essa ainda seja a realidade para milhões de pessoas em todo o mundo, desde trabalhadores de fábricas a operadores de call centers, elas são a exceção e não a regra no mundo industrializado.

A modernização então apareceu com melhores condições de trabalho e, consequentemente, mais exigências. Assim, o emprego estável já não era o suficiente, mesmo com um bom salário. Outros aspectos entraram em vigor: motivação e engajamento. As empresas se veem inclinadas a uma relação cada vez mais transparente com seus colaboradores, caso queira reter talentos e se desenvolver. A motivação de equipes passa por diversos aspectos e é um dos pontos chave para o destaque.

Paralelamente, houve muita discussão recentemente sobre a importância de expressar seu verdadeiro eu autêntico no trabalho. É importante que as tarefas sejam fruto do alinhamento dos interesses do colaborador e os interesses da empresa. A flexibilização de jornada, benefícios atraentes e plano de carreira são alguns benefícios que conseguem motivar mais o funcionário e deixa-lo mais livre e confiante de ser ele mesmo.

Entretanto, cabe uma reflexão: isso significa que, se você não está em um emprego que lhe permita se comportar com seus amigos e familiares próximos, você deve se preocupar ou até mesmo desistir? Você deve procurar um empregador que não apenas tolere, mas também aceite a versão verdadeiramente não filtrada de você? Não é bem assim.

Alguns estudos psicológicos sugerem que os funcionários de alto desempenho são, em essência, grandes gerentes de impressão. Isso pode ter uma conotação negativa, mas é sobre isso que trata a inteligência emocional (EQ). É a capacidade de ajustar seu comportamento para gerenciar impressões e tornar melhor a convivência. A chave é fazê-lo de uma maneira que pareça autêntica para os outros.

Por outro lado, algumas empresas acabam anulando esse livre arbítrio de seus colaboradores e tentam moldá-lo à sua própria cultura. Se torna mais fácil gerenciar as pessoas quando elas são iguais e têm as mesmas crenças. Isso significa que haverá dois padrões em vigor na maioria das organizações. Se você aderir à linha do partido e seguir os valores dos líderes, seja você mesmo. No entanto, se não o fizer, é melhor buscar algum ponto de encontro entre o que você acredita e o que é passado pela empresa. Através desses pontos em comum, é possível criar maior engajamento e continuar sendo você mesmo.

As organizações passam a ser obrigadas a criar um espaço para que os colaboradores sejam eles mesmos, adaptando-se à missão, visão e valores da empresa, é claro. Há, contudo, uma linha tênue, entre ser você mesmo e ultrapassar o limite da boa convivência. Só porque algumas pessoas são de alto desempenho ou até contribuem com estrelas, não significa que devemos permitir que elas se comportem da maneira que quiserem. Piadas sexistas, comportamentos antissociais, bullying, assédio e outros comportamentos tóxicos são consequências de licenças excessivas concedidas a líderes ou indivíduos de alto status no trabalho.

Você pode sim ser você mesmo no trabalho e caso sinta que não está conseguindo se expressar de forma genuína, busque padrões: em que situações você sente que não está sendo você mesmo? Porque? Através da identificação desses padrões é possível buscar alternativas para encontrar os pontos em comum com a mensagem que a organização quer passar.

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