A entrada em setembro marca o início das campanhas de prevenção ao suicídio, sendo o setembro amarelo o foco ao longo do mês. O suicídio, entretanto, ainda é elucidado como tabu para grande parte da população, enquanto a porcentagem de mortes cresce cada vez mais. Quando a morte é fruto de uma escolha do próprio indivíduo, a tensão tende a ser maior, visto que implica na simples renúncia à vida. Nesse cenário, emergem duas perguntas: como não se percebeu que tal sujeito estava em tamanho sofrimento e o que poderia ter sido feito para evitar aquele fim.
Questiona-se, então, quais as possíveis relações do trabalho e o autoextermínio e esbarra-se na subjetividade do sujeito. Para grande parte das pessoas, o emprego é muito mais do que uma atividade remunerada, mas se pauta em um papel social e base para construção de uma identidade que possa inclui-lo em um grupo. Ademais, é fonte de reconhecimento e de autoestima, firmando sua função simbólica que reflete a visão que temos de nós mesmos e do mundo. Através do trabalho, nos tornamos sujeitos de ação e permitimos que nossos talentos e potencialidades sejam desenvolvidos, representando a possibilidade de autonomia e independência.
A contemporaneidade produziu marcas políticas, econômicas, sociais e culturais. No cenário organizacional, a globalização incitou a adaptação às mudanças através de ajustes rápidos. Desde 1990, percebe-se um grande movimento de reestruturação organizacional e as privatizações se tornam cada vez mais populares. Ampliou-se a incorporação tecnológica, elevando a concorrência, tornando as qualificações profissionais cada vez mais difíceis de serem alcançadas e colocando o fim a empregos pelo uso de máquinas. É impossível que tal mudança não produza resultados negativos. Os casos de assédio moral passaram a ser mais frequentes, coincidindo com o aumento dos casos de suicídio.
O trabalho passa a se resumir a meras atividades comerciais e a subjetividade do sujeito é substituída pelo atingimento de metas. As relações interpessoais se tornam duvidosas visto à extrema competividade e a autonomia se torna a meta mais difícil de ser cumprida. O tempo, antes organizador do trabalho, vira o principal inimigo de um bom funcionário e tudo o que importa são os números apresentados ao final do mês. É crescente o número de temporários e serviços terceirizados, a fim de minimizar as relações mais duradouras, pois em caso de não cumprimento do proposto, o funcionário pode ser substituído.
As consequências são as mais diversas, como o esvaziamento das profissões pela exigência de sempre mais qualificações. A lógica do produto sobrepõe-se sobre a lógica da profissão. Além disso, há a ruptura de laços sociais em virtude de uma alta competição no mercado, assim como a intensificação de trabalho em busca de maior remuneração. Ademais, o funcionário se torna obcecado a entregar resultados ao ponto de criar mentiras a si mesmo que justifiquem as horas extras crescentes em sua rotina. O trabalho perde sua função identitária para o sujeito, que passa a ser submisso a uma função sem sentido, se isolando e exaurindo.
A Organização Mundial da Saúde (OMG) relata que a depressão afeta 322 milhões de pessoas ao redor do mundo, o que torna a doença a segunda maior preocupação no âmbito de saúde pública. No Brasil, 5,8% da população tem depressão, representando 11,5 milhões de pessoas. A depressão é um tema de extrema importância e sua relação com o suicídio se torna cada vez mais visível.
Fonte:UNIASSELVI
A área de Recursos Humanos tem papel importante na escuta e acolhimento de sua equipe, assim como as demais áreas de uma empresa. É fundamental criar espaços em que o colaborador consiga se desenvolver, mesmo diante o estresse da rotina. Uma empresa que cria um ambiente harmonioso de trabalho, tende a propiciar maior abertura entre a equipe os gestores. A depressão é uma doença séria e criar mecanismos para ouvir os funcionários a fim de buscar por pistas se torna uma das possíveis ações de um RH atento.
Além disso, é importante que sejam trabalhados os pontos levantados em pesquisas de clima. Esse é um dos poucos momentos em que o colaborador consegue ser honesto sem o medo de represália e os pontos de melhoria levantados pela análise dessa pesquisa devem ser o foco de mudanças. É importante manter o seu funcionário motivado, para que o trabalho continue a exercer sua função de apoio à construção da identidade e desenvolvimento de habilidades. Há, também, ações mais simples que podem e devem ser implantadas na rotina empresarial, como a participação de campanhas de conscientização e divulgação, em canais internos, sobre o assunto, com o direcionamento dos centrais de prevenção e o incentivo à escuta atenta e empática.
Falar e lidar com o suicídio não é uma tarefa fácil, mas precisa ser foco de toda organização que preza pela qualidade de vida do seu colaborador. É importante falarmos sobre o assunto, buscarmos informações e formas de lidarmos também com o luto. É essencial que saibamos escutar e buscarmos ajuda se a situação está muito difícil. A contemporaneidade nos cobra muito, mas não tem problema admitirmos que precisamos de ajuda.
Fonte: Nova Biotec