Liderando em tempos de home office

Espero que não seja tarde demais em tempos de home office.

Se depois de tudo isto alguém ainda tem muitas dúvidas, sei não…

E não me refiro à pandemia, aos seus efeitos, nem a como lidar – em alguns casos, como o meu, com 100% do seu time trabalhando de suas casas na modalidade home office. Falo especificamente de como liderar uma equipe.

Sim, porque nada, absolutamente nada da essência de liderança de equipes muda se ela está perto ou longe – na verdade como tentarei esclarecer aqui – o que muda radicalmente é quão perto ou quão longe você sempre esteve, ou tem estado, de sua equipe.

Há, por exemplo, uma mudança radical em como alguém deve se relacionar com seu cônjuge durante estes tempos de todo mundo em casa?

Radicalmente, nada. Continuamos no difícil e desafiador campo do respeito pelo outro, na tentativa de compreender e atender suas necessidades. O que mudou foi estar todos os dias, e o dia todo, juntos, por vezes em um espaço físico já inadequado para comportar apenas eu e ela, e que agora também precisa ser ocupado por outros dois atores: o eu-funcionário-da-minha-empresa e o ela-funcionária-da-empresa-dela e as nossas intermináveis e sucessivas vídeo conferências.

O respeito mudou?

– Não! Muito menos a necessidade dele, quiçá precisou ser exponencialmente potencializado.

Preciso dar e ter espaço e tempo. Quero ver TV na hora do call dela? Desligo o som e vou lendo legendas. O nenê chora na hora do call dele, eu vou lá ver como acalmá-lo (o bebê e ele), a vizinha toca a companhia, quem está menos ocupado atende. É hora de dar uma saída – sozinho –, sim, por que não, todo mundo precisa de um tempo a sós para respirar e encontrar consigo mesmo.

Compreender e respeitar a necessidade do outro mudou? Certamente que não. Como o respeito, precisaram até ser exacerbados.

Agora ele quer ficar quieto? Não puxo conversa. Ela precisa tirar uma soneca no meio da tarde? Deixo-a descansar. Cada um quer pedir um iFood diferente em horas completamente diferentes? Bora, por que não? Juntos. Mas cada um do seu jeito, no seu tempo e no seu espaço.

Ou seja, se no relacionamento conjugal estamos vivendo o oposto – tempo e espaço – que vivemos no passado, mais perto, mais tempo, muito mais perto, muito mais tempo. Nas nossas equipes, com nossas equipes, o caminho foi o inverso, estamos mais longe do que era o normal. Fisicamente. E convivendo por menos tempo do que era normal. Sim, verdade, mas precisa ser assim?

Penso sinceramente que não.

Liderança está direta e inexoravelmente relacionada com relacionamentos e sem proximidade (não necessariamente física) não há – de jeito nenhum – como você exercer a sua em sua equipe.

E aqui, meu irmão e minha irmã, começa o nosso problema. Se mesmo quando estávamos perto, todo dia, o dia todo, o tempo todo, por dias, meses e anos você nunca foi próximo, disponível, humanamente disponível, para os membros da sua equipe, desculpa, você tem um problemão nas mãos. Ah… tem sim. E se acha que não. Bom… aí você tem dois.

Vejo que muito das disfunções e dificuldades que estamos vivendo em algumas empresas e em algumas equipes é o reflexo não do simples fato das equipes estarem trabalhando de casa, mas do saldo relacional negativo que esses líderes já tinham com suas equipes muito antes de tudo isto começar.

A única verdadeira mudança é que, como se diz, a conta chegou. E ela sempre chega.

Líderes (ou to-be-líderes-one-day) que não se atentaram para o simples fato – cardíacos tomem seus remédios antes de continuar a leitura – que lidam com pessoas.

Sim, pessoas. E agora estão perdidos sem saber como agir porque ficou mais difícil controlar quem-faz-o-quê-como-e-quando e agora eles precisam conversar, ouvir, entender, explicar, apoiar e tudo o mais que sempre foi o que eles deviam ter feito. Sempre. Mas não fizeram.

De repente, estão chocados porque a Vilma tem um gato, o Antonio tem na parede da sala de estar um quadro do Monet junto com uma camisa autografada do Palmeiras, a Renata tem um bebê (e que ele chora!), o Mario é casado e tem gêmeos, o Pedro mora com a tia Lúcia, e o João preferiu mudar para Assis.

De repente, aquele “bando”, que mais parecia um grande borrão desfocado, que trabalhava para eles, virou um monte (ok, ainda um monte) de… gente.

De todos os tipos, cores, tamanho, largura, altura, textura, idades, vontades, ritmos, timbres e imagens diferentes. Em contextos diferentes. Mesmo quando usam o fundo de tela falso com o logo da empresa, eles agora se parecem mais com eles mesmos e menos com o cargo que ocupavam, as funções que exerciam, as tarefas que faziam, ainda que sejam exatamente aos mesmos que fazem hoje. Curiosamente, agora, eles parecem… gente.

Prezado e prezada, liderar em tempos de mudanças é um pleonasmo conceitual. Como já escrevi há muito tempo, liderança rima com mudança. E surprise!… cardíacos, again folks: mudança rima com liderança.

Portanto, nenhum momento é mais propício para o despertar e para o desabrochar do melhor de um líder do que um momento como este.

A dica é simples: foco, foco nas pessoas.

Em casa, dê tempo (e espaço) para elas.

No trabalho, dê do seu tempo, mente e coração para elas, e não importa de qual espaço estejamos falando, se elas estão aqui, ali, ou na Cochinchina.

Elas só estarão longe, se você estiver longe delas.

Sou Eduardo Cupaiolopenso e repenso as organizações e as ajudo a pensar e repensar e alcançar mais e melhores resultados. Para todos. Se quiser conversar sobre a sua, fala comigo (cupaiolo@peopleside.com.br).

Eduardo Cupaiolo
Eduardo Cupaiolo
Especialista em desenvolvimento humano e organizacional. Diretor e consultor da PeopleSide.

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