Passado o tempo em que era vista como uma formadora de profissionais burocráticos, a carreira de recursos humanos ganhou mais notoriedade nas empresas e no mercado. Tal destaque tem sido tão expressivo que, de uns tempos para cá, o principal líder de gestão de pessoas começou a ser cotado para atuar como CEO.
Tradicionalmente, aqui no Brasil, os presidentes das companhias são oriundos de áreas como comercial, operações e finanças, conforme revelam os dados de uma pesquisa feita com os CEOs de 120 empresas. Embora o gestor de pessoas tenha uma contribuição modesta nesse cenário, a tendência é que a carreira de RH se torne, em breve, uma provedora de comandantes para as organizações.
Um estudo da consultoria Korn Ferry, feito com a ajuda de Dave Ulrich, uma das figuras mais respeitadas da gestão de pessoas, concluiu que a carreira de RH pode formar grandes presidentes para as empresas. Durante as análises, os especialistas perceberam que, dentre as principais posições C-Level (CFO, COO, CMO, dentre outras), a do CHRO (sigla utilizada para se referir ao chefe do departamento de RH) é o que mais possui habilidades que são percebidas num CEO.
A constatação levou a Korn Ferry e o próprio Ulrich a fazer uma recomendação ao mercado: mais empresas devem considerar o seu CHRO na hora de escolher o novo CEO. Mas, afinal, por que a carreira de RH pode gerar bons presidentes?
Dois pontos do estudo merecem destaque e ajudam a responder essa pergunta. O primeiro diz que os RHs estão mais focados em resultados. Nos últimos tempos, eles deixaram de apenas administrar programas da área e passaram a fornecer soluções estratégias para o negócio. O segundo afirma que, assim como o CEO, o RH sabe antecipar problemas, justamente por estar mais próximo das pessoas.
Para completar essa lista, destacamos outras duas competências da carreira de RH que são, ou devem ser, encontradas num CEO:
- Equilíbrio de habilidades técnicas e pessoais: pressionado para ser mais estratégico, mas sem deixar de zelar pelas pessoas, o executivo de RH provou que sabe falar o idioma dos negócios e atender as necessidades dos colaboradores;
- Capacidade de agregar pessoas em prol de um objetivo: o executivo de RH foi o responsável por alinhar os objetivos dos colaboradores com as metas das organizações. Se antes esses dois agentes andavam em rumos opostos, hoje há uma maior sintonia, que é fruto da interferência do RH.
A carreira de RH e o desafio de chegar à presidência
Conforme mencionamos na introdução desse artigo, poucos CEOs brasileiros foram importados da área de gestão de pessoas, sendo assim, o que falta para a carreira de RH ganhar mais relevância nesse cenário?
De acordo com os próprios RHs que se tornaram presidentes, as lideranças precisam mudar a maneira como olham para o gestor de pessoas, que ainda é visto como um mero consultor. Esse, por sua vez, também precisa tirar o foco apenas da sua área e circular mais entre outros setores da empresa.
A inteligência emocional, bastante percebida em que segue a carreira de RH, costuma ser deixada de lado na hora de se escolher um presidente. Em parte, isso acaba excluindo os CHROs dos processos de sucessão. Contudo, muitas empresas já perceberam que não dá para conduzir negócios apenas com técnicas. Cultura, pessoas e estruturas também são essenciais para levar uma estratégia adiante.
Ao militante da carreira de RH, resta a missão de continuar empenhado no trabalho de valorização da área, mas sem deixar de pensar fora da caixa. Dessa forma, quem conquistar grandes patamares na profissão poderá ter a chance de alcançar o assento principal da companhia.