O que antes era ditado como minoria hoje mostra sua força na busca por direitos iguais e um lugar na liderança feminina. Não só hoje como há anos as mulheres vêm lutando por seus direitos e por seu espaço na sociedade, hoje é cada vez mais nítida a participação da mulher em diferentes áreas que antes eram exclusivamente masculina, como politica, economia, tecnologia e no âmbito social.
Por mais que tenhamos exemplos claros de mulheres que foram pioneiras nestes setores, atualmente vemos o mercado cada vez mais dominado por elas e a liderança feminina tomando conta de cadeiras antes só ocupadas por homens. Em um mundo complexo e ambíguo no qual estamos inseridos, as mudanças são crescentes e velozes e os números tendem a aumentar a cada dia ou, porque não, a cada minuto.
Em uma realidade, infelizmente, desconhecida por nossa sociedade, as empresas precisam estar prontas para estas mulheres que vivem a 220wts se dividindo entre família, carreira e vida pessoal. Ainda que esteja mudando, há uma pressão e introjeção do meio que exigem a mulher, a mãe e a profissional perfeita, gerando uma carga e um estresse prejudicial à ela e, consequentemente, ao meio em que está inserida e sendo participativa. Segundo Renata Abreu, autora do livro Felicidade Feminina que aborda a Psicologia Positiva:
“Pesquisas relatam que nos últimos 40 anos as mulheres se tornaram mais infelizes, ansiosas e estressadas se comparadas aos anos 70. Se, por um lado, a luta pela igualdade de direitos trouxe mais oportunidades, influência e renda, por outro, o que observamos é um grande acúmulo de tarefas, que não necessariamente trouxe bem-estar para o sexo feminino. Pelo contrário, o grande dilema da mulher contemporânea é a multiplicidade de papéis, não necessariamente pelo fato de tê-los, mas como exercê-los.”
Essa multiplicidade de papéis traz à mulher questões finitas e exige um equilíbrio, não necessariamente benéfico, pois ela precisa criar maneiras de equilibrar todos os pratos e não permitir que se quebrem, e isso acarreta em uma posição não confortável e no nascimento de conflitos internos que projetam no externo.
Mas como as empresas podem ajudar estas mulheres e como elas podem finalmente encontrar o famigerado equilíbrio?
Na entrevista concedida ao BlogRH, Renata Abreu responde a esta e outras perguntas que abrem portas e mudam o mindset sobre o perfil feminino e como o meio pode se adequar a esta nova realidade.
BlogRH: Atualmente estamos vivendo em uma era onde a luta pelos direitos se faz cotidiana, mas se por um lado a mulher vem conquistando seu espaço, por outro ela também está mais doente com cobranças de todos os lados. O que você acredita que possa mudar este cenário? Quais ações a mulher pode tomar para encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal?
Renata: Pesquisas na área da psicologia positiva mostram que as pessoas felizes, que vivenciam uma predominância de emoções positivas, tendem a ter sucesso simultaneamente nas diferentes áreas da vida, portanto mais do que pensar em apenas equilibrar vida pessoal e profissional, nós podemos pensar em estabelecer uma vida mais significativa e de maior bem-estar.
A ciência hoje nos mostra a possibilidade de as pessoas poderem estabelecer a sua própria felicidade, por intermédio de suas ações, não mais aguardando que fatores externos se encarreguem disso.
Apesar de não existir uma fórmula mágica, existem diversas práticas e exercícios comprovados em estudos científicos para nos ajudar nesta área. Um exemplo muito efetivo nesta área é o estabelecimento de objetivos de vida que sejam prazerosos e significativos, que estejam alinhados aos nossos valores genuínos e não a fatores externos. Para tal, precisamos entender o sentido da nossa vida e então estabelecer um propósito, uma aspiração maior que tenha significado. Além disso, nossas metas para as diversas áreas da vida precisam ser harmônicas entre si, evitando o estresse natural das metas conflitantes.
Outros dois aspectos que podem contribuir muito para nosso bem-estar são: focar no que temos de bom, ou seja, no desenvolvimento das nossas qualidades humanas, como por exemplo, investir em nossos principais talentos, e potencializar as nossas emoções positivas objetivando um modelo mental mais otimista que vai nos levar a uma vida com resultados mais significativos, mais saudáveis e quem sabe até mesmo mais longos.
BlogRH: Quais os principais desafios da mulher contemporânea?
Renata: Viver em uma sociedade hipermoderna tem muitos desafios. Eu tenho identificado, ao longo da minha carreira, diversas hipóteses que funcionam como causas para infelicidade feminina. O desafio mais evidente é a dupla jornada em suas casas. Uma pesquisa realizada com executivas na América Latina, por exemplo, revelou que as mulheres entrevistadas apontam a “dupla jornada em casa” como sendo a maior barreira para o crescimento da mulher nas corporações (as mulheres latinas americanas dedicam 2.6 vezes mais horas do que os homens em atividades domésticas).
Outro desafio, dentro desse contexto de múltiplos papeis, é lidar com a famosa “vontade de fazer tudo ao mesmo tempo”. Como diz a feminista Gloria Steinem: “a supermulher é adversária do movimento feminista”, pois quando criamos a ilusão de superpoderes e nos permitimos atuar acima das nossas capacidades físicas e mentais nos colocamos em uma posição mais suscetível ao estresse e às doenças. Uma das causas para este padrão de comportamento acontece quando nos deixamos influenciar por uma espécie de ditadura social na qual precisamos cumprir com louvor etapas e regras de conduta: se formar, casar, ter filhos, atingir o ápice profissional e financeiro sem perder o posto de esposa e mãe exemplar, estar na moda e magra o suficiente para vesti-la, e ainda dar conta da gestão doméstica.
BlogRH: Como o RH, e as empresas ao todo, podem se adequar a essa nova realidade da mulher e ajuda-la a encontrar este equilíbrio?
Renata: Já há alguns anos pesquisas globais apontam que a, liderança feminina, ou seja, a presença das mulheres em posições de liderança contribui para maiores lucros nos negócios, portanto as empresas têm investido cada vez mais em programas de inclusão e diversidade, o que é muito positivo.
Podemos até dizer que as disparidades de gênero e de salários no topo das organizações já fizeram progressos, mas ainda há espaço para muito mais.
Os programas tradicionais de diversidade de gênero trazem adequações no local de trabalho, horários flexíveis, home office, licença maternidade ampliada para 6 meses, facilidades no período pós maternidade e salários compatíveis. No entanto dentro destes modelos parece ainda haver uma lacuna na equação.
Apesar de todas as facilidades recebidas, as mulheres estão cada vez mais cansadas, estressadas e infelizes. Considerar o nível de estresse e infelicidade que as mulheres podem estar vivenciando em suas carreiras é crucial para qualquer programa de desenvolvimento e inclusão de gênero.
O primeiro passo neste sentido é apoiar o autoconhecimento das mulheres sobre as possíveis causas, ou seja, os ofensores ao seu bem-estar, visando o estabelecimento de uma carreira sustentável e gratificante, o que pode requerer ajustes em outras áreas ainda não consideradas nas empresas. É por esta perspectiva que os estudos científicos da psicologia positiva podem trazer inovações nas práticas organizacionais direcionadas ao desenvolvimento da liderança feminina.
A busca pelo propósito no trabalho, a definição de metas harmônicas entre as áreas da vida, potencialização de talentos, práticas de combate ao estresse e a ampliação das emoções positivas no dia a dia são alguns exemplos citados e que podem ser implementados, muitas vezes sendo necessário o suporte de um profissional especializado.
BlogRH: Quais ações você acredita que o RH pode tomar caso se depare com uma colaboradora C-Level em situação de extremo estresse?
Renata: O ideal é que a empresa atue na prevenção do estresse, por intermédio da implantação de processos e políticas que possibilitem uma vida de maior bem-estar. A prática de mindfulness, que pode ser descrita como uma forma específica de atenção plena, tem sido amplamente utilizada para este fim, pois quando realizada de forma regular ajuda na redução da ansiedade, depressão e irritabilidade, além de melhorar a memória, o vigor mental e físico.
Num caso de estresse extremo já instalado é preciso, antes de qualquer coisa, um acompanhamento médico.
Últimos artigos – Cobertura CONARH 2017
CONARH: O papel do líder na transformação digital
CONARH: Endomarketing – Como utilizá-lo para apoiar o direcionamento estratégico do negócio
CONARH: Liderança Coletiva – Novas competências para um mundo VUCA
CONARH: Big Data e Analytics – Apoiando o processo de tomada de decisão