CONARH: Liderança Coletiva – Novas competências para um mundo VUCA

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Trazendo para o CONARH o tema Mundo VUCA, em tradução, volátil, incerto, complexo e ambíguo, Kátia Nekandaris afirma que atualmente vivemos em uma MuVUCA, ou seja, em um Mundo VUCA, onde no âmbito organizacional, além de lidar com os impactos (diretos ou indiretos) de desafios globais, as empresas e suas lideranças enfrentam o acelerado ritmo da mudança e sua crescente complexidade. Hoje presenciamos uma era onde as mudanças acontecem rapidamente, exigindo que os líderes estejam atentos 100% do tempo e uma liderança mais coletiva com um poder baseado cada vez mais em cargos e relacionamentos e não somente em apenas um individuo. Com a velocidade crescente, é preciso ficar atento às novas tecnologias, a diversidade geracional, os novos competidores, as instabilidades econômicas e políticas, a diversidade interna e externa, porque tudo isso torna o ambiente corporativo altamente complexo e competitivo. Neste novo contexto a necessidade de desenvolver uma nova capacidade de liderança, que encare os desafios de forma mais consciente, sistêmica e estratégica é primordial para criar novos e sustentáveis resultados para o futuro.

Vivemos em mundo que está cada vez mais interconectado, e para lidar com todo esse cenário VUCA e transformar seus desafios de complexidade, interdependência e urgência em oportunidades e resultados é necessário rever a forma como lideramos e colaboramos. A realidade deixa de ser líder x liderado, pois ela acontecerá através dos coletivos, tanto dentro quanto fora das organizações.

Recentemente, o CCL (Center for Creative Leadership) fez uma pesquisa ao redor do mundo sobre o futuro no desenvolvimento de líderes nesse ambiente de complexidade e chegou a quatro grandes tendências:

1 – Mais foco no desenvolvimento vertical do que no desenvolvimento horizontal

Até o momento, o maior investimento em desenvolvimento de líderes tem sido no horizontal que foca na aquisição de mais conhecimentos, habilidades e competências e o desenvolvimento vertical tem sido minimamente explorado, que é a habilidade de pensar com maior profundidade e agir de forma mais complexa, sistêmica, estratégica e interdependente. O atual cenário exige que os líderes deixem um pouco de lado o desenvolvimento horizontal e foquem no desenvolvimento vertical para que possam agir mais estrategicamente e não apenas desenvolver habilidades e competências.

2 – Indivíduos se apropriando do seu próprio processo de desenvolvimento

O modelo atual encoraja as pessoas a acreditarem que outra pessoa é responsável pelo seu desenvolvimento (RH, gestores, professores, etc.), hoje os líderes precisam encorajar as pessoas a serem responsáveis pelo seu próprio progresso. Hoje o sujeito precisa sair da plateia para se tornarem protagonista do seu próprio desenvolvimento.

3 – Maior foco na liderança coletiva do que na liderança individual

O desenvolvimento da liderança tem sido muito focado no indivíduo, onde o mesmo detém todo o poder. Há uma transição ocorrendo do velho paradigma onde a liderança deixa de residir em uma pessoa ou papel para um novo no qual a liderança é um processo coletivo que ocorre através da rede de pessoas. A pergunta irá mudar do “quem são os líderes” para “que condições são necessárias para que a liderança ocorra e consiga mobilizar e engajar todos os níveis da organização”.

4 – Maior foco na inovação dos métodos de desenvolvimento de líderes

As organizações deverão rever seus modelos tradicionais de lideranças e se atualizarem para novos métodos, até mesmo programas, que ajudem a desenvolver a liderança coletiva. Será necessária uma era de rápida inovação na qual as organizações irão experimentar novas abordagens que combinem diversas ideias e novas formas de compartilhamento. A tecnologia terá um importante papel nesta mudança de infraestrutura e as organizações que estiverem dispostas a rever seus modelos e a adotarem novas abordagens terão uma boa vantagem sobre as demais companhias.

Na entrevista abaixo, que também pode ser assistida no nosso canal no YouTube, Kátia Nekandaris traz para nós, quais as dificuldades que as empresas enfrentam e enfrentarão no atual mundo VUCA e quais serão as mudanças primordiais que deverão ocorrer.

BlogRH: Como o mundo VUCA impacta a liderança?

Kátia: Na verdade o mundo VUCA impacta todos nós, vivemos em um momento de vulnerabilidade. VUCA é um termo, um acrônimo, que foi criado pela  US Army College,  para definir o ambiente politico econômico pós guerra fria e é um termo que foi adotado pelas escolas de negócios a partir do final da década de 90 para definir um ambiente volátil,  incerto, complexo e ambíguo que as nossas organizações vivem atualmente. E todos nós estamos dentro deste ambientem, então impacta sim a liderança, porque hoje nós vivemos em um mundo que é interconectado e altamente complexo que sofre mudanças a cada minuto. A KPMG fez uma pesquisa com CEOs do mundo inteiro (pesquisa anual) identificando quais são as principais preocupações que estes CEOs têm com relação a este ambiente de vulnerabilidade e de complexidade e, entre vários dados e várias respostas que foram apresentadas, há uma que nos chama muita a atenção e que vai ao encontro com esta questão do VUCA, a pesquisa informa que 72% dos CEOs consideram que os próximos 3 anos serão muito mais difíceis de gerir do que os 50 anos anteriores, ou seja, é uma velocidade e uma complexidade absurda que hoje todos os líderes e organizações precisam conviver, ter efetividade e resultados de uma outra forma, porque o modelo antigo já não serve mais.

BlogRH: Quais os principais desafios para as empresas neste novo contexto?

Kátia: Acredito que um dos grandes desafios, que foi inclusive tema da minha palestra aqui no CONARH, é sair de um modelo de liderança heroico, onde concentramos todo o poder da liderança em um individuo e em suas habilidades, e sair para um modelo mais democrático e coletivo. Na verdade nós temos inúmeras definições de liderança, mas a maioria traz um tripé comum que é um líder que conduz um conjunto de liderados para o alcance de um objetivo comum e essa definição de liderança foca no individuo normalmente super poderoso, que vai a frente que conduz o seu conjunto de liderados, essa visão está um pouco ultrapassada, aliás, bastante ultrapassada. Dentro deste contexto de complexidade e de interconectividade que eu comentei, já não cabe mais, já não dá mais para um único individuo dar conta de todos os desafios que este momento e que essa aldeia global traz para nós, o que percebemos é que a liderança acontece através dos coletivos, então a liderança acontece através de áreas, através de hierarquias, nos times de trabalhos, nos times funcionais, dentro da organização, fora da organização, ou seja, ela acontece através dos coletivos, e o grande desafio eu diria que é sair desse mindset (modelos mentais) focado no ego-sistema e focado no individuo e nas suas capacidades, e partir para uma visão mais ecossistema onde todo o coletivo atua em função de resultados e objetivos comuns.

BlogRH: Existem ferramentas para desenvolver a capacidade de liderança coletiva?

Kátia: Sim, existem várias ferramentas, que inclusive nós da Leaders Lab aplicamos nas organizações, que são de autoria de grandes escolas de negócios como MIT, Harvard, Center for Creative Leadership – CCL (somos parceiros deles na América Latina) e ferramentas que visam não apenas desenvolver capacidades e habilidades para Liderança Coletiva, tais como: visão sistêmica; colaboração; gestão de polaridade; ampliar a visão do líder para toda essa conectividade; e, inovação. Todas elas são capacidades fundamentais para este novo mundo e para os desafios deste mundo, mas também ferramentas que sensibilizam a liderança para a necessidade da mudança de mindset, da mudança de formas de pensar e de agir no mundo. Hoje já não é suficiente o desenvolvimento apenas de habilidades ou competências de lideranças, isso continua sendo muito importante, mas mais do que isso a necessidade de se desenvolver nas organizações uma nova forma de ver a liderança e para isso os indivíduos precisam ampliar a sua visão e estas ferramentas que eu mencionei de uma forma bastante prática possibilitam isso nas organizações.

BlogRH: Que dica você poderia dar para os líderes que desejam melhorar ainda mais seu papel de líder?

Kátia: Eu diria para estarem se auto desenvolvendo continuamente, que apresentem uma abertura genuína para atuarem dentro deste coletivo e que esqueçam inclusive a pressão que existe nessa visão ultrapassada do líder herói. Por que o líder precisa ter todo esse peso? Este peso não está apenas nas costas de uma pessoa, mas de alguma forma o líder pode ser sim um agente multiplicador e facilitador para que o processo de liderança aconteça entre os times, independente de níveis hierárquicos e de áreas funcionais.

BlogRH: E para o RH, que está com a missão de desenvolver sua liderança na empresa, que conselhos você poderia dar para ele alcançar com sucesso esta meta?

Kátia: Primeiro o Recursos Humanos precisa, e está é uma história que é falada há bastante tempo, também ampliar sua visão para então entender profundamente o negócio que a sua organização opera e entender de uma forma ampliada e sistêmica como que funcionam os mecanismos e os stakeholders (público estratégico), tanto internos quanto externos para sentir na pele as dores do negócio e a partir disso, como mais um membro da liderança, facilitar com que esses processos de liderança aconteçam de uma forma mais fluída dentro da organização. Liderança hoje não é mais cargo ou um papel, ela é um processo que gera direção, alinhamento e comprometimento, e o RH pode ser o agente facilitador dessa mudança, tanto de mindset dos líderes quanto da cultura da organização, para que se foque em algo mais produtivo e mais sustentável ao longo do tempo.

Katia Nekandaris é sócia da Leaders Lab, executive master coach pelo ICC (Canadá), consultora em desenvolvimento organizacional e de lideranças, professora do MBA-FIA.

 

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