Durante a cobertura do CONARH, o BlogRH entrevistou o Mauricio Benvenutti, após sua palestra chamada “As 5 novas competências para desenvolver carreiras e empresas de sucesso”. Nesta palestra ele nos fala sobre as novas tecnologias e como elas estão impulsionando a mudança nas pessoas, organizações e sociedade. Ele nos questiona se estamos mesmo promovendo a mudança ou ela está nos impulsionando a mudar? O que vem pela frente? Como se preparar?
Leia mais sobre esta palestra do CONARH no artigo publicado no BlogRH.
BlogRH: Como as empresas podem se manter competitivas no mercado?
Mauricio: Muito obrigado por estar aqui, é um prazer imenso viver o CONARH 2018 e está sendo uma experiência superpositiva.
Está muito claro que o que nos trouxe até aqui e a gente tem que se orgulhar. A forma como a gente construiu empresas, geriu empresas, ótimo, maravilha que funcionou, mas o que funcionou até aqui não vai funcionar para frente porque o mundo vive hoje novas exigências. As habilidades e competências que o mercado de trabalho exige de profissionais e empresas são completamente outras, então hoje para se manter competitivo existe todo um modelo de gestão que nos acostumamos a viver ao longo dos últimos 50 anos que precisa ser questionado, que precisa ser interrogado e que precisa ser desafiado por todo esse novo mundo que a gente vive hoje, então, no meu entendimento é, para cada organização hoje que busca se manter na vanguarda do que faz, eu faria a seguinte pergunta: Como adaptar o que eu faço para essa nova geração de consumidores? Como adaptar o que eu entrego para atender os anseios dos consumidores atuais? Como eu adapto um produto, serviço ou solução que eu disponibilizo para esse mundo tecnológico que existe a disposição das pessoas? Eu, se fosse uma empresa, um empresário ou profissional que trabalha em uma organização, eu partiria desse ponto.
BlogRH: Mauricio, nós estamos em um congresso de RH e eu tenho que puxar um pouco as perguntas para dentro do RH. Qual seria o papel do RH para ajudar as empresas a se manterem competitivas?
Maurício: Na minha visão, você não constrói uma empresa, você constrói um time, e o time constrói a empresa, então o resultado que uma empresa, uma organização, entrega e gera de valor para a sociedade é fruto do trabalho do time, da equipe, enquanto uma área de gestão de pessoas, de RH, eu vejo cada vez mais a competência de criar questionadores dentro da empresa ser fundamental, porque a gente vive hoje um mundo onde a normalidade nunca mudou e nunca vai mudar nada, a gente exige de empresas novas posicionamentos e enquanto consumidores a gente exige das empresas posicionamento atuais e só vai conseguir entregar isso enquanto empresa, se a gente desenvolver novos atributos, novas capacidades, novas habilidades, novos hábitos, e isso não vai ser fruto do pensamento comum, isso vai ser fruto de um time que pensa diferente, que questiona, que interroga, que desafia o status quo, então se eu fosse um profissional que trabalhasse com pessoas todo santo dia, como é que eu faço para desenvolver nessas pessoas da minha empresa o hábito de questionar? As verdades estão sendo questionadas, as leis e as normas estão sendo questionadas, a gente vê as criptomoedas desafiando o mercado financeiro, os aplicativos de compartilhamento de corrida desafiando as leis de transporte municipal, se eu não assumo uma atitude questionadora hoje em dia, há chance para trás enquanto a organização é muito grande, então, trabalhar uma formação de questionadores dentro da empresa é fundamental e segundo ponto é cultivar a diversidade, o diferente não surge do comum. Eu digo até que o diferente hoje é o novo normal, então se a gente convive, almoça e conversa sempre com as mesmas pessoas, a gente vai sempre chegar as mesmas soluções, a diversidade de pensamento hoje é fundamental para uma organização, inclusive já existe hoje e 1/4 das 500 maiores empresas do mundo já tem um o cargo de Chief Diversity Officer que seria o Diretor de Diversidade, um profissional que trabalha todo dia só pra garantir que a empresa tenha diversidade, cultivando a diversidade de pensamento, então estimular a formação de questionadores e cultivar a diversidade de pensamento, eu colocaria aqui como atributos fundamentais para o RH nos dias de hoje.
BlogRH: Você tendo vivência no Vale do Silício, quais as grandes diferenças que você vê do RH de lá com o do mercado brasileiro?
Mauricio: É um pouco do que eu respondi, mas, quanto a palavra Vale do Silício, a maioria das pessoas remete tecnologia, carro voador, carro autônomo, robô, inteligência artificial, as impressoras 3D, tudo isso existe lá, só que a tecnologia ela é uma commodity, ela existe lá, existe em qualquer lugar do mundo, não é isso que faz o Vale, o que faz o Vale ser esse motor que produz inovações em série nas últimas cinco décadas seguidas é a mentalidade das pessoas que fazem o Vale do Silício, é isso que faz o Vale do Silício. São as pessoas, a forma como elas pensam e atuam que faz o Vale ser o que é. Eu vejo muito as áreas de Recursos Humanos de lá cultivando a “desobediência”, no bom sentido, a gente tem, enquanto na minha visão, profissionais de Recursos Humanos perante um mundo que muda todo dia, eu tenho que ter essa desobediência de olhar para os lados e questionar o status quo, ser desobediente para questionar: O que está errado e eu posso corrigir? Qual é a dor que a sociedade possui que eu posso consertar? Isso não surge da atitude normal, surge da desobediência, eu vejo inúmeras empresas que nascem no Vale, elas nascem “desobedientes” porque elas questionam, digamos assim a normalidade das coisas, os RH’s estimulam isso nos seus funcionários, e aí você vai criando essa legião de negócios que rompem segmentos todo santo dia. Eu vejo muito isso nas empresas do Vale e no RH das empresas do Vale, eu vejo muito claro o cultivo da desobediência, eu acho que isso de questionar, cultivar a diversidade de pensamentos, ser desobediente, acho que isso são atributos fundamentais numa área que gerencia pessoas, conseguir formar, digamos assim, os trabalhadores do século XXI
BlogRH: Você acha que estamos muito atrasados em relação ao RH de lá? Tem como acelerar isso aqui no Brasil?
Mauricio: Eu acredito que não, eu acredito apenas que existe muita gente que acredita que 20 anos de experiência significa um ano repetido 20 vezes. Isso hoje é inútil, quando alguém me fala hoje que tem 20 anos de história, ou de experiência, para mim significa pouca coisa, porque não necessariamente a experiência que foi acumulada ao longo dos 20 anos atende às necessidades atuais de mercado. Eu vejo muito que, talvez, um pouco do mercado latino, cultiva muito esse hábito, “porque tem tantos anos de história e o RH cultiva isso”, a gente está vendo cada vez mais empresas que tem 100 anos sumirem, desaparecerem, sucumbidas por demais empresas que as vezes não tem 10 anos de vida. A palavra não é atraso, eu vejo muito o RH lá no vale muito atento a: Que mundo nós vivemos? De que forma eu preciso atuar para atender às necessidades desse mundo atual? Eu vejo um pouco aqui, mas muito ainda não, mas as pessoas estão aqui e a gente fala de uma organização que tem tantos anos de história e também não precisa mudar. Quem tiver esse tipo pensamento vai ser eliminado do mercado sem sombra de dúvidas, mas eu não vejo tanta diferença não. Acho que tem alguns aspectos, e assim, o Vale do Silício é um eco sistema, o Brasil é outro, tem muita gente que fala e eu enxergo dessa forma. O Vale do Silício é um país dentro dos E.U.A, não é E.U.A aquilo lá, a gente pensa nos E.U.A, a gente pensa naqueles caminhões, aquelas caminhonetes que cabem 10 pessoas dentro e aquele consumismo, e no Vale não é assim, então as particularidades regionais precisam ser respeitadas. O Brasil é diferente dos Estados Unidos, que é diferente do Vale. Eu acredito que é preciso tropicalizar os conceitos. Não vejo tanta diferença, mas na minha visão, o que existe lá no Vale é uma atitude das pessoas que trabalham com pessoas, de formar desobedientes, questionadores, pessoas que olham para os lados, não se contentam com o status quo e buscam resolver as dores da sociedade de maneiras diferentes, então, não vejo como atraso, vejo apenas que as vezes tem um posicionamento um pouco diferente, que é um pouco da consequência da diversidade regional, que é comum, mas não vejo atraso nesse sentido.
BlogRH: Você acha que dá para replicar um pouco do Vale do Silício aqui no brasil?
Mauricio: Eu acredito que não! Não é replicar a palavra, porque o que faz um ecossistema empreendedor são três fatores: o primeiro é a presença da rebeldia, você tem que ter um rebelde que questiona as coisas; o segundo, você tem que ter conhecimento porque um rebelde sozinho não faz nada, quando você coloca conhecimento você gera inovação; e, o terceiro, você tem que ter investimento de capital, então, rebeldia, conhecimento e capital formam um ecossistema de inovação. O Vale tem muita rebeldia, muito conhecimento, Stanford, Berkeley, universidades de ponta, e tem muito capital, então, uma vez que esse tripé existe lá, vários ecossistemas do mundo começam a tentar replicar isso, você vê isso no Brasil. O Brasil tem muita rebeldia, o conhecimento a gente fica um pouco atrás e capital a gente poderia ter muito mais fomento. Há desenvolvimento de novas ideias, então eu não diria copiar, mas eu diria que, uma vez que o Vale do Silício não é a tecnologia que faz o Vale, são as pessoas, se no Brasil a gente desenvolver nas empresas profissionais questionadores, rebeldes, que buscam desafiar o status quo, que busquem criar coisas novas, que busquem aplicar diversidade de pensamento, então eu acho que fazendo isso a gente se aproximará desse mindset, dessa mentalidade que faz o Vale ser o que é. O Vale é o Vale e existe lá e funciona muito bem para a realidade de lá. O Brasil é o Brasil e é outra atmosfera, outra realidade. A gente, no meu entender, tem que buscar construir o nosso Vale do Silício, do nosso jeito, com a nossa cultura e com a nossa característica, mas rebeldia, conhecimento e capital é fundamental. É o tripé que sustenta a construção de um ecossistema de fomento da inovação.
Mauricio Benvenutti
Sócio da StarSe