Anderson de Souza Sant’Anna, em sua palestra, dentro do espaço ABRH no CONARH, chamada “O trabalho no contexto da economia digital”, nos traz, com base em seus estudos e interações com lideranças de organizações de diferentes contextos e setores, uma proposta para ampliar o debate acerca de implicações da chamada Quarta Revolução Industrial sobre o trabalho, a liderança e formas de seu desenvolvimento.
Ele nos faz debater sobre que competências passam a ser requeridas à superação de arranjos organizacionais e estilos tradicionais de liderança e gestão, ainda fortemente marcados pelos princípios dominantes da revolução anterior.
Anderson disse no CONARH que um volume crescente de análises e debates veem sendo realizados em torno do que se convencionou denominar de “Quarta Revolução Industrial”, evidenciando mudanças marcantes nas relações indivíduo-trabalho-organizações-sociedade. Igualmente, significativo é a extensão, a profundidade e o ritmo nas ressignificações de categorias analíticas clássicas, como trabalho, profissão, carreira e organização.
Em nível organizacional, as transformações apontam para a própria revisão da noção de “Organização”, redefinida como formas de “Organizing”, pautadas por intensa desfronterização e descentralização dos arranjos organizativos, aos moldes de “plataformas de negócios”, “organizações em redes” e “confederações de startups”.
De modo similar, os estudos apontam para automação radical dos processos operacionais e tático-gerenciais das organizações, reconfigurando ocupações, senão excluindo do mercado formal de trabalho contingentes populacionais significativos. Para o CONARH, Anderson trouxe algumas estatísticas e entre elas alguns dados do Bureau norte-americano do trabalho (2017) que corroboram as análises ao projetarem que cerca de 75% das profissões tais quais realizadas atualmente não existirão em 2030.
Outras instituições, como o Fórum Econômico Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, sugerem inclusive a superação do capitalismo industrial-fordista, com ampliação junto à periferia do sistema produtivo, de relações tradicionais de troca, baseadas nos conceitos de economia solidária, no cooperativismo comunitário, em economias de moeda local, no empreendedorismo de subsistência e na economia circular; amparadas, não raro, por programas de renda universal.
Quanto à dimensão individual, as narrativas sinalizam para a (re-)significação do conceito de trabalho para o de occupability – associada à lógica do jobless -; para a desfronterização e polarização das profissões, bem como para a superação da noção de carreira pelas ideias de trajetórias ocupacionais proteanas e sem fronteiras.
Embora apontem para um futuro passível de novas vivências, associadas ao hedonismo, à eliminação da compulsoriedade do trabalho e ao alcance de uma “sociedade do ócio”, os estudos advertem para a necessidade de ações que mitiguem os impactos negativos da travessia. Em particular, trazem à tona a relevância da educação e dos processos de (re-)qualificação ocupacional, superando conteúdos e formatos educacionais em grande parte direcionados à “formação” de perfis ocupacionais já obsoletos.
Ao concluir sua palestra no CONARH, Anderson diz que de modo geral, os dados sinalizam para um cenário desafiador, porém, com amplas possibilidades aos profissionais das áreas de pessoas. Aproveitá-las, no entanto, irá lhes requerer mesmas capacidades que buscam junto aos profissionais que visam atrair e reter em suas organizações: capacidade de reinvenção, pensamento estratégico, capacidade de identificação e mobilização de talentos e competências, coragem, visão e ação sistêmicas.
Certamente, o grau em que conseguiremos apreender e nos desenvolver frente a esse novo ambiente de negócios será significativo para a permanência – assim como para o papel de protagonista do RH citado no CONARH – a desempenhar pela função RH da era da revolução 4.0. De toda forma, o ponto de decisão é agora.
Anderson de Souza Sant’Anna
Pós-doutor em Teoria Psicanalítica pela UFRJ, doutor em Administração e em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Pesquisador Produtividade em Pesquisa (CNPq).